Entrevista

Entrevista com I&I DJANGDAN

15/09/2008 2008-09-15 12:00:00 KoME Autor: Kay & sianface Tradução: Pan

Entrevista com I&I DJANGDAN

Entrevista com a banda de dub coreana I&I DJANGDAN.


© I&I DJANGDAN
I&I DJANGDAN é uma das poucas bandas de reggae e dub da Coréia. Depois do lançamento de seu EP, Culture Tree, no início do ano, I&I DJANGDAN teve tempo para falar sobre sua música e o futuro da cena reggae coreana.

Vocês poderiam se apresentar, por favor?

Francois: Nós somos a I&I DJANGDAN, a primeira geração de música dub da Coréia.

Como vocês se conheceram e o que os fez decidir formar uma banda?

Francois: Eu conheci o Bang-jan em uma casa de shows onde nós dois tocamos há uns anos atrás. Eu tinha optado por tocar reggae desde que cheguei ao país e Bang-jan estava liderando a única banda de reggae conhecida na Coréia do Sul, Windy City, então nosso interesse em comum pela música reggae nos aproximou. Não são todos os dias que você encontra alguém com essa paixão por aqui. A cena musical de reggae e rasta na Coréia é muito nova.

Nós nos encontramos depois em estúdio e eu controlava o mixer enquanto ele tocava bateria. Essa é a origem da I&I DJANGDAN.

O que significa o nome da banda?

Francois: "I & I" basicamente significa "nós". Isso é patois jamaicano (nota: gíria jamaicana). Nós gostamos dessa forma de dizer "nós" porque significa que o grupo é composto por indivíduos diferentes e que as diferenças tornam o grupo especial.

"DJANGDAN" significa "ritmo" em coreano. Então, nosso nome significa simplesmente "nosso ritmo", "nossa batida".

Reggae/dub não parece ser um gênero musical muito conhecido na indústria musical coreana. Como vocês conheceram esse estilo musical e porque decidiram começar a fazê-lo?

Francois: Eu descobri a música reggae há cerca de 15 anos, quando minha irmã estava ouvindo Bob Marley em seu quarto. Depois disso, eu sentava do lado do rádio dos meus pais por horas ouvindo Bob Marley, Burning Spear, Israel Vibration e todos os artistas lendários do reggae de raiz. Desde aquela época, eu sempre me identificava com as letras e com a personalidade dos rastas. Acima de tudo, eu estava muito impressionado com o fato de, mesmo sendo dos anos 70, a música ainda ser muito realista. A música reggae tem sido uma grande influência pra mim desde então.

Eu decidi começar a fazer música alguns anos depois, quando eu comprei uma máquina que simulava uma bateria e um velho teclado de um amigo. Depois, eu comprei um computador velho e percebi o potencial de um software de música e comecei a montar meu próprio estúdio em casa, aos poucos.

Quais artistas inspiraram vocês?

Francois: Bem, o Bob Marley, claro, e o King Tubby, Augustus Pablo, Johnny Clarke, Sugar Minott, Earl Chinna Smith, todos bons artistas jamaicanos. Também o Lee "Scratch" Perry porque sua forma de trabalhar é realmente especial, tanto tecnicamente quanto espiritualmente. As pessoas dizem que ele é meio maluco, mas eu acho que ele está mais perto de ser um gênio do que um homem louco. Ele sempre foi muito inovador em suas gravações e em seu estilo de produção e ele é, certamente, o papa do dub.

Nós também somos muito atraídos pela cena de dub inglesa, Jah Shaka, Aba Shanti I, o poderoso Iration Steppas, Conscious Sounds, Vibronics, Zion Train, etc. Eles usam muito mais processos digitais, mas ainda é a continuidade dos principais trabalhos jamaicanos. A primeira vez que eu vi um show de Aba Shanti I ou Iration Steppas foi muito importante pra mim. A forma como eles controlavam seu som e faziam seu baixo se tornar "físico" me deixou maravilhado. Naquela época, eu podia sentir a música, não apenas ouvi-la.

Seu estilo musical é bem recebido na Coréia? Existem muitos seguidores de música reggae e dub na Coréia?

Francois: Nossa música é muito bem recebida aqui, apesar de nunca ter sido um estilo popular. Nós algumas vezes temos a satisfação de ver alguns rostos bem surpresos gostando de nossa performance. Não existem muitos seguidores para esse tipo de música ainda, mas está crescendo rápido, nós podemos ver.

Ao invés de só seguir o exemplo de outras bandas de dub, vocês misturaram seu som com outras influências coreanas. Por que vocês escolheram fazer isso, foi para torná-lo mais acessível e familiar para o público coreano, ou tem algum outro motivo?

Francois: Nós escolhemos fazer isso porque nós realmente gostamos da música tradicional coreana e de música dub. Pessoalmente, a idéia veio antes de eu chegar na Coréia, quando minha mulher me mandou um CD de música tradicional. Eu estava gostando muito de world music e eu realmente achei que esse tipo de coisa já existia aqui, mas só tinha escutado o que é chamado de "fusion", que não é bem meu gosto, apesar de eu realmente gostar de música tradicional. Eu acho que "fusion" é na verdade uma mistura de sons superficiais e não mostra muito bem os elementos usados.

Jang-Goon, você canta várias vezes usando o estilo vocal tradicional coreano. Como você aprendeu a cantar assim? O que o fez decidir combinar ele com reggae?

Jang-Goon: Eu tive aulas em um instituto de música tradicional coreana quando estava na sexta série do ensino fundamental. Eu achava que poderia me ajudar muito a cantar bem se eu aprendesse pansori naquela época. Desde então, eu estudei pansori até a universidade. Eu sei e aprendi mais sobre pansori por ter me aprofundado ainda mais nisso.

Eu acho que comecei a ficar mais próximo da minha música e das pessoas nos últimos dez anos e então eu continuo experimentando e combinando minha música com outros estilos.

Francois, por ser o único membro da banda que não é coreano, você acha que traz uma influência diferente para o grupo?

Francois: Eu acho que a principal influência que eu trago é a cultura Rastafari porque eu tenho me interessado por isso há mais de dez anos. A música é a forma que os Rastafáris encontraram de serem conhecidos fora da Jamaica, então eu acho que é bom continuar falando sobre isso dessa forma.

Antes da criação da banda, eu costumava selecionar algumas melodias dub mixadas com flautas tradicionais e instrumentos de corda. Naquela época, eu percebi o potencial das raízes coreanas e da música tradicional, quando elas são misturadas com o ritmo reggae. Mas tecnicamente a principal influência que eu trago é o dubwise: misturar o som ao vivo de todos os membros no modelo dos primeiros mestres de dub jamaicano, como o Lee "Scratch" Perry ou o King Tubby, e adicionar samples.

Ser o único membro não-coreano é uma coisa boa, principalmente porque eu tenho que me comunicar e entender pela música, enquanto na maioria das vezes, os outros membros têm discussões em coreano. É por causa disso que eu sinto como se a música fosse realmente uma coisa universal. Ele que sente, sabe!

Ban-Jang, como membro da Windy City você ajudou a trazer o reggae para uma audiência doméstica maior; o que você acha dessa conquista?

Ban-Jang: Eu não diria que fiz alguma realização ou façanha na música reggae como um músico reggae ou mensageiro, ainda. A cena musical reggae coreana acabou de surgir e o que tenho orgulho de mim mesmo é por tocar música reggae e passar a mensagem sinceramente há 8 anos, porque eu estava em uma banda de reggae chamada bus-riders. Havia, e ainda existem, poucos músicos reggaes, mas é tudo questão de moda, não é sobre uma mensagem consciente. Eu posso dizer honestamente que eles não conhecem reggae. A música reggae é o futuro da música nessa geração.

A Coréia é um dos primeiros países que não ligam para suas raízes e tradições. É por isso que a Coréia precisa da música reggae. Eu sinto isso mais e mais forte e em alguns anos no futuro, eu vou pensar sobre isso de novo. Reggae, dub e I&I DJANGDAN têm o som do passado, presente e futuro. As árvores contêm toda a natureza como nosso som. [De novo... O que?]

Não importa se você toca reggae, salsa, ou qualquer outro gênero; nossa música contem uma mensagem e uma harmonia. Ainda é muito cedo para falarmos sobre os resultados. Está acontecendo agora.

Quando olhamos para músicas reggae antigas, nós encontramos vários temas como pobreza, opressão, discriminação, e outros problemas sociais que foram importantes na Jamaica nos anos setenta, quando a música reggae foi criada. A Coréia, no entanto, tem um cenário completamente diferente, mas vocês mostram o reggae típico e símbolos jamaicanos em seu site. Considerando que o passado cultural é tão diferente, que tipo de significado a música reggae tem pra vocês?

Francois: Apesar da Coréia de hoje ter um cenário completamente diferente da Jamaica dos anos 70, nós ainda podemos encontrar pobreza, opressão e discriminação em todos os lugares. Simplesmente é mostrado por um ângulo diferente.

Morando na Coréia, eu percebo que o desenvolvimento e a situação econômica estão crescendo muito rápido, mas a pobreza aqui não tem muito a ver com dinheiro (apesar de existirem pessoas pobres), eu acho que a pobreza aqui tem a ver com identidade e cultura em geral. Certamente não é mais sobre dinheiro. Opressão e discriminação também estão, claro, muito presentes em várias formas, apesar de serem bem diferentes do que o povo jamaicano sofria nos anos 70 e que estão sofrendo hoje.

Eu acho que a proposta da música reggae é falar sobre os vários problemas e todo tipo de injustiça que o homem sofre, em todo mundo. A música rasta não falava apenas sobre o povo jamaicano, apesar de vir de lá. Várias pessoas em diferentes lugares pelo mundo foram tocadas por essas mensagens, mesmo tendo cenários completamente diferentes. É sobre uma mensagem universal, da qual a principal linha de pensamento são as palavras e história de Haile Selassie I (nota: Imperador da Etiópia entre 1930 - 1974. Símbolo da reencarnação de Deus no movimento Rastafári). O significado da música reggae para mim é simplesmente expressar o amor em todas suas formas. Também é usado para expressar o que nós sentimos que está errado a nossa volta.

Existe alguma mensagem principal que vocês queiram transmitir pela sua música? Vocês estão trabalhando com as principais mensagens do reggae ou vocês possuem suas próprias mensagens?

Francois: Como a mensagem Rasta é sobre espalhar o amor e entendê-lo de uma maneira universal, nós trabalhamos com essa mensagem. Nós também temos algumas preocupações com a situação na Coréia, politicamente, culturalmente, etc.

Por sermos a primeira banda de dub daqui, eu espero que possamos mostrar alguns exemplos de que experimentar novas coisas é possível, que nem sempre temos que tocar o que está "funcionando bem". A diversidade na cena musical coreana geralmente é bem fraca, comparada com muitas outras culturas. Quando olhamos a formação dos poucos grandes festivais, ou a cena de casas de shows de Seul em geral, não é muito fácil achar algo realmente novo. Nossa banda é uma expressão da necessidade de novas coisas e mais variedade na cena musical coreana.

No seu MySpace, vocês escreveram posts com temas políticos como microchips em passaportes. Vocês lutam por mudanças políticas por intermédio da sua música? Se sim, quanto poder vocês acham que a música tem sobre a política?

Francois: Claro que eu quero algumas mudanças políticas. Se nossa música puder contribuir 0, 000000001% nisso, eu vou sentir como se tivesse conquistado uma pequena vitória. Eu não acho que música exerça muito poder sobre políticos, mas a música pode influenciar o povo, que pode ter poder sobre os políticos.

A música rasta em geral não lida com políticos ("poli-tricks") normalmente, mas mais sobre algumas idéias espirituais e "raciocínios" diferentes, que podem ser bem políticos, mas por outro ponto de vista.

Com relação ao post sobre os microchips no novo passaporte coreano, eu acho que isso é o tipo de coisa que pode dar medo se a evolução desse tipo de idéias se desenvolverem. Existe cada vez mais e mais controle por aí. Por exemplo, a última vez que eu fui ao Japão, eu fiquei bem surpreso ao ver que na checagem do passaporte agora tem uma impressora digital e uma sessão de fotos. Eu nunca tive nada que fizesse eu me sentir culpado nesses lugares, mas essas práticas fazem eu me perguntar: "Será que eu realmente não sou culpado?!".

Eu sei que cientificamente, a biotecnologia (tecnologia do corpo) está tecnicamente pronta e eu espero que o microchip dos passaportes não nos leve a isso, porque aí nos estaremos completamente em controle de, eu não sei o quê. Talvez no futuro nós vamos precisar ter um microchip embaixo de nossas peles, por exemplo. Ás vezes, a ficção cientifica está próxima da realidade.

Recentemente, vocês lançaram um novo EP, Culture Tree. Vocês podem nos falar um pouco sobre ele, o que as pessoas podem esperar dele?

Francois: O EP Culture Tree é o primeiro dub gravado na Coréia, nós gravamos "inna dub tradition" com efeitos e mixers analógicos. As pessoas podem esperar ouvir algumas misturas culturais de sons e experimentos na relação entre a música dub e influências das raízes tradicionais coreanas.

Como acontece o processo de composição? Existe algum padrão para vocês escreverem as músicas?

Francois: Sessões de improviso é como nós criamos novas músicas. Nós improvisamos, gravamos, escolhemos as partes boas, discutimos e depois começamos a fazer os arranjos.

Se vocês tivessem que escolher apenas uma música para introduzir a banda, qual faixa do Culture Tree vocês escolheriam?

Francois: Eu gostaria de escolher Irie Rang, nossa versão de Arirang, uma música tradicional muito popular que quase qualquer região da Coréia canta da sua maneira.

Eu acho que essa música é tipo um ícone da cultura coreana. Minha esposa disse que a maioria dos imigrantes coreanos em outros países conhecem essa música, mesmo que não falem a língua. Na verdade, eu até achava, antes de pensar em fazer nossa versão, que esse era o hino nacional!

Onde I&I djangdan se sente mais a vontade, gravando no estúdio ou tocando ao vivo?

Francois: Na verdade, nós gostamos das duas coisas, mas eu, pessoalmente, prefiro as apresentações ao vivo porque é aí que a música realmente está vivendo em sua totalidade. Mas as sessões de gravação também possuem sua própria força. Elas nos ajudam a produzir algo que vai existir por um longo período de tempo.

O que alguém pode esperar de um show ao vivo de I&I DJANGDAN? Vocês têm planos de fazer shows em outros países no futuro?

Francois: As pessoas podem esperar sentir a cultura coreana saindo dos chãos, então, pulem junto! Nós temos planos de fazer um show na Etiópia em dezembro e estamos abertos a tocar em qualquer país, claro.

Quais são seus planos para o futuro?

Francois: Fazer um álbum completo com vários formatos diferentes, alguns em LPs de 7 polegadas que podem ser tocados em sistemas de som, e também queremos fazer show no maior número de países que pudermos.

Algum comentário final para os leitores?

Francois: Obrigado por ler e ouça o nosso som se você tiver um pouco mais de tempo! Benção, sempre.

O KoME gostaria de agradecer ao I&I DJANGDAN por tornar essa entrevista possível.
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