MYSTICAL FEST em São Paulo

No dia 20 de agosto, o MYSTICAL FEST transformou o Cine Joia em um verdadeiro santuário do visual kei. O evento reuniu em uma mesma noite artistas que marcaram e continuam moldando a cena: Közi, Hora, Kaya, HIZAKI e CERO. O evento foi uma celebração do rock japonês, reunindo fãs de todas as faixas etárias em uma noite histórica para o público brasileiro.

Apesar da data (quarta-feira) ter sido inoportuna para alguns fãs comparecerem, aqueles que puderam participar aguardaram ansiosamente desde o ínicio do dia – muitos maquiados e vestidos a caráter. No início da tarde, o festival teve início com as atividades de interação de foto e hi-touch, no qual quem adquiriu os pacotes pode ter um contato mais próximo com os artistas.

- MAYOHK -

A abertura ficou por conta do projeto criado por Közi e Hora em 2025, que fez sua aguardada estreia no Brasil com uma apresentação calorosa e contagiante.

O ambiente ainda estava escuro quando Hora subiu ao palco, sendo recebido por gritos entusiasmados. Logo em seguida, o palco foi tomado por luzes vermelhas enquanto Közi entrava em cena dançando ao ritmo envolvente de HK, música de abertura. Mantendo o ritmo eletrônico que transita entre o sombrio e o etéreo, a dupla prosseguiu com ADAGIO.

Közi arriscou falar um pouco de português ao cumprimentar o público com um “olá”, seguindo com uma introdução da banda em japonês: “Nós somos o MAYOHK, prazer!”. O clima cresceu ainda mais em C’est si bon, faixa-título do álbum de estreia do projeto, na qual o artista exibiu suas habilidades na guitarra, enquanto as batidas eletrônicas conduzidas por Hora eram acompanhadas pelo público com palmas e leques sincronizados.

A energia se manteve alta com DONUTS e Jerry Journey, mostrando a sintonia entre os dois músicos e a forma como suas melodias vibrantes conquistaram a plateia. Para encerrar a primeira sessão do festival em grande estilo, veio SEXY MUSIC, com Hora assumindo também os vocais secundários. Entre gestos de aproximação, o DJ pediu mais gritos e hipnotizou os fãs ao sinalizar com as mãos para que o acompanhassem, arrancando uma resposta ensurdecedora da casa.

Ovacionados, Közi agradeceu em português com vários “obrigado”, enquanto Hora se despediu acenando para a multidão. A saída do duo foi marcada por aplausos e gritos calorosos, deixando a plateia em êxtase para as próximas apresentações da noite.

Setlist

1. HK

2. Adagio

3. C'est si bon (セスィボン)

4. DONUTS (ドーナツ)

5. Jerry Journey (ジェリージャーニー)

6. SEXY MUSIC

- Kaya, HIZAKI e CERO -

A segunda sessão da noite trouxe uma atmosfera aristocrática e teatral com a união de Kaya e HIZAKI, acompanhados pela participação especial do baixista CERO, colega de HIZAKI na banda Jupiter.

Após um breve intervalo para a preparação do palco, luzes em tons de azul preencheram a casa de shows. Um instrumental refinado começou a ecoar, anunciando a entrada de Kaya, que caminhou lentamente até o centro do palco trajando um vestido aristocrático imponente e uma peruca loira que realçava sua presença marcante. Em seguida, surgiu HIZAKI, em um elegante vestido preto e segurando um buquê de rosas vermelhas. A dupla deu início a Vampire Requiem, marcada por movimentos graciosos e giros coreografados que faziam suas saias esvoaçarem em perfeita harmonia.

O público ainda aplaudia a primeira música quando CERO juntou-se ao palco, elevando a energia durante Curse of Rose. A poderosa performance trouxe destaque aos solos de HIZAKI, que, com sua aura magnética, conquistava aplausos entusiasmados a cada nota. Entre uma música e outra, Kaya cumprimentou o público com um simpático “obrigada, sou o Kaya”, e apresentou seus companheiros de palco. Tanto HIZAKI quanto CERO também se arriscaram no português, arrancando reações calorosas da plateia.

A apresentação seguiu com ROSE, conduzida pelos vocais poderosos de Kaya e pela dramaticidade que se tornou marca registrada do artista. O público respondeu em coro e palmas ritmadas, embalando a atmosfera de intensidade. Malefica e ARCADIA, esta última do repertório do Jupiter, mantiveram a agitação, mostrando a sinergia entre os três músicos.

Em um segundo momento de interação, Kaya comentou sobre a alegria de retornar a São Paulo após sete anos e refletiu sobre o pouco tempo desde sua última visita a Brasília. HIZAKI relembrou sua ausência de oito anos do país, enquanto CERO compartilhou a felicidade de estar em sua primeira vez no Brasil. As declarações foram recebidas com aplausos, gritos apaixonados e declarações de “eu te amo” vindas da plateia, que estamparam sorrisos sinceros nos rostos dos artistas.

O ponto alto da sessão foi uma homenagem especial. Kaya revelou que haviam decidido incluir no setlist, ainda durante o voo para o Brasil, uma música que marcou sua infância. Em memória do cantor Nobuo Yamada, falecido no início de agosto, dedicou Pegasus Fantasy ao céu. O hino atemporal ecoou no Cine Joia em um emocionante coro coletivo entre banda e público. Sem pausa, a energia seguiu com Pink Spider, clássico de hide (X JAPAN), que fez todos tirarem os pés do chão. Apesar da vibração intensa, a emoção era visível nos olhos marejados dos artistas e dos fãs mais antigos.

Para encerrar, o trio apresentou Glitter Arch, coroando a performance com brilho e emoção. No fim, HIZAKI desceu até o pit para cumprimentar os fãs de perto, gesto que foi seguido por Kaya e CERO, que também se aproximaram da beira do palco para uma despedida longa, calorosa e inesquecível.

Setlist

1. Vampire Requiem

2. Curse of Rose

3. ROSE

4. Malefica

5. ARCADIA (Jupiter)

6. Pegasus Fantasy (Make-Up)

7. Pink Spider (hide)

8. Glitter Arch

- Közi -

Na segunda metade do festival, o palco foi tomado pela presença magnética de Közi, ícone incontornável da cena visual kei por sua trajetória no lendário MALICE MIZER e projetos como ZIZ e MAYOHK. Com sua estética excêntrica e inconfundível, o artista trouxe uma performance marcada pelo experimentalismo e pela intensidade, mergulhando o público em atmosferas densas e misteriosas que reafirmaram por que seu nome é uma verdadeira referência.

A expectativa já tomava conta da plateia quando as primeiras notas de ILLUMINATI ecoaram no Cine Joia. Composta por Közi e escrita por seu ex-colega de banda GACKT, a canção levou os fãs à loucura, resultando em um coro uníssono e aplausos arrebatadores.

Após agradecer o carinho recebido entre gritos apaixonados de seu nome, o músico manteve o clima nostálgico ao apresentar ISM, faixa de seu álbum KHAOS (2003). Sua dança hipnótica e seu visual excêntrico criavam uma fusão perfeita entre o impacto estético do visual kei e a intensidade sonora, transportando os fãs para uma experiência imersiva.

O ritmo eletrônico com nuances sombrias prosseguiu com Dans Erebos e Honey Vanity, acompanhadas por palmas ritmadas que o público executava com entusiasmo a cada pedido. Revisitando mais uma vez sua história no MALICE MIZER, Közi presenteou os fãs com Ju te veux, obra que encapsula a aura gótica da banda e evoca tanto a complexidade quanto o anseio das relações humanas.

Após uma breve pausa, o artista anunciou a última música de sua apresentação. O palco foi então tingido por luzes vermelhas, que criaram a atmosfera ideal para Color Me Blood Red, encerrando sua participação com intensidade. Entre aplausos e declarações apaixonadas do público, Közi agradeceu em português com um “obrigado” (ainda que, num primeiro momento, tenha se confundido com um espontâneo “gracias”) e arrancou gritos ainda mais altos ao completar com um “eu te amo”. Antes de deixar o palco, permaneceu por alguns instantes a mais, retribuindo os gestos da plateia, em uma despedida que uniu emoção e nostalgia.

Setlist

1. ILLUMINATI (MALICE MIZER)

2. ISM

3. Dans Erebos

4. Honey Vanity

5. Ju Te Veux (MALICE MIZER)

6. Color Me Blood Red (MALICE MIZER)

- Schwarz Stein -

Coube ao duo, formado por Kaya e Hora, a tarefa de encerrar o festival com chave de ouro. Sua sonoridade eletrônica sombria, marcada por uma aura etérea e hipnótica trouxe um contraste em relação às apresentações anteriores e mergulhou todos em uma experiência intensa e quase sobrenatural.

A introdução ficou por conta do instrumental de Testament, durante o qual Hora surgiu primeiro no palco, trajando roupas de tom aristocrático e adornadas com babados, diferentes do visual utilizado em sua apresentação com o MAYOHK. Com passos lentos, percorreu toda a extensão do palco, incentivando a plateia a reagir com mais entusiasmo. Em seguida, Kaya juntou-se a ele, vestindo um elegante traje preto, acompanhado de uma peruca escura e um véu igualmente negro, compondo uma figura tão enigmática quanto imponente. Juntos, deram início a Perfect Garden, o primeiro single do Schwarz Stein, que imediatamente conquistou o público.

Em LOVER, Kaya agitou o público ao gritar “Brasil, vamos!”, enquanto Hora conduzia os fãs com gestos de “vem” feitos com as mãos - repetidos ao longo de toda a noite. A intensidade cresceu ainda mais em Release Me, que trouxe palmas ritmadas, saltos coletivos e até mesmo um momento em que Hora, com sua aura misteriosa, se ajoelhou na beira do palco para encarar os fãs de perto.

Na primeira pausa para conversar com o público, os artistas foram recebidos com um coro caloroso de “Hora, eu te amo”. Visivelmente feliz, o músico agradeceu em português, arriscando um carinhoso “obrigado” e “te amo”. A dupla complementou dizendo que estavam muito felizes de trazer finalmente o Schwarz Stein ao Brasil. Kaya revelou que há 10 anos tentava convencer Hora a realizar esta viagem. Perguntaram em seguida se todos estavam se divertindo e se queriam repetir a experiência já na semana seguinte, recebendo uma resposta eufórica e unânime. Entre risos, prometeram que talvez no próximo ano. Kaya aproveitou para agradecer aos fãs brasileiros por continuar apoiando o visual kei com tanta paixão.

Na sequência, convidaram todos a cantar junto em Haven, sendo prontamente atendidos. O clima então tomou um tom mais sombrio e dramático com CREEPER, no qual Hora assumiu os vocais de apoio enquanto Kaya demonstrou sua versatilidade ao intercalar seu canto melódico com guturais intensos.

O encerramento veio com Immortal Light e New Vogue Children, nas quais a dupla aproveitou para se aproximar ainda mais do público, caminhando pela beira do palco e interagindo com fãs que acompanhavam cada segundo com devoção.

Setlist

1. SE (Testament)

2. Perfect Garden -Regenerate-

3. LOVER

4. Release me -2025-

5. Haven −2025-

6. CREEPER

7. Immortal Light

8. New vogue children -2025-

Encore

Após o término da última apresentação, Kaya agradeceu o carinho de todos e, em seguida, chamou os demais artistas da noite para se juntarem a eles. Um a um, CERO, HIZAKI e Közi apareceram, arrancando gritos entusiasmados do público. O momento se tornou ainda mais especial quando Közi surgiu segurando uma bandeira do Brasil, gesto que emocionou os presentes enquanto HORA registrava tudo em vídeo. Em um instante de pura comunhão, todos se reuniram para uma foto com a plateia antes de encerrar a noite com chave de ouro ao som de Au Revoir, originalmente interpretada pela MALICE MIZER. Com os olhos marejados diante do coro emocionado dos fãs, os artistas prolongaram a despedida o máximo possível, acenando repetidas vezes antes de, finalmente, deixar o palco sob aplausos arrebatadores.

O MYSTICAL FEST encerrou assim a sua primeira edição no Brasil. Reunindo nomes lendários, o festival ofereceu ao público não apenas apresentações musicais, mas verdadeiras experiências imersivas que mesclaram intensidade, emoção e teatralidade. Entre a nostalgia de clássicos que marcaram época e homenagens emocionantes, a noite reafirmou o vínculo especial entre artistas e fãs brasileiros. Mais do que um simples evento, foi um encontro histórico que certamente permanecerá na memória de todos os presentes.